Mies van der Rohe em Berlim e o edifício “Wabe”

O arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe não nasceu em Berlim, mas em Achen, cidade alemã do estado de Renânia do Norte-Vestfália. Em Berlim, ele viveu e trabalhou a partir de 1905, quando se juntou ao escritório de Peter Behrens e foi ali que ele conheceu os arquitetos Walter Gropius, Hannes Meyer e Le Corbusier.

Depois de ter projetado e acompanhado as obras da embaixada da Alemanha em St. Petesburg, na Rússia, Mies passou a trabalhar independente, em seu próprio escritório, e a fazer projetos de casas para Berlinenses abastados. Ele atuou intensamente no campo da arquitetura e do design, foi membro e fundador de diferentes grupos de vanguarda dos anos de 1920 e dirigiu a escola Bauhaus a partir 1930. Depois do fechamento da escola em Dessau, essa mudou-se para Berlim em 1932 e Mies foi junto.

O regime nazista o proibiu de exercer sua profissão na Alemanha, por isso, em 1938, ele foi de mudança para os EUA e abriu um escritório em Chicago. Posteriormente, passou a dirigir o departamento de arquitetura do instituto de tecnologia de Illinois.

Em sua passagem por Berlim, além das casas para os ricos e projetar a Neunational Galerie, concebeu o edifício “Wabe” (Favo de mel) que, apesar de nunca ter sido construído, se transformou num ícone e numa das mais importantes ideias de edifício do século 20.

Esse projeto foi a sua contribuição para um concurso, em 1921, para a construção de um edifício de escritórios em um terreno de forma triangular, entre a estação de trem Friedrichstraße e o rio Spree. Com os olhos de hoje, vê-se um projeto visionário. Todas as áreas principais eram variáveis e a fachada era toda recoberta por vidro. A proposta foi o primeiro exemplo de arquitetura “Pele e Osso”: uma pele transparente de vidro que recobre um esqueleto formado pela estrutura em aço.

Glashochhaus

Wabe”, proposta de Mies van der Rohe para um concurso de ideias de um edifício de escritórios Bauhaus-Archiv Berlin / © VG Bild-Kunst, Bonn 2016.

Era um edifício de ângulo cortante e que no nada da Friedrichstr parecia um pedaço de futuro jogado lá. Mies van der Rohe foi muito corajoso naquele tempo. A sua torre de vidro ainda não era tecnicamente realizável e por isso um outro projeto ganhou o primeiro lugar. Porém esse projeto vencedor também não foi construído por uma sequência de ocorridos: a crise econômica dos anos de 1920, a construção da estação do metrô para a olimpíada de 1936, a segunda guerra mundial seguida da divisão da cidade e o seu uso como área de controle de fronteira da RDA- República Democrática da Alemanha. Logo depois da reunificação, o terreno se transformou em um ponto de encontro de punks e seus cachorros.

Desde 1914 esse tereno permaneceu vazio e teria sido possível preenchê-lo com um edifício genial, mas não foi o que aconteceu. Quem passa por ali hoje em dia vê um edifício sem qualidades arquitetônicas à altura da expectativa para o lugar. Erguido na década de 2010, este é muito cinza, escuro, pesado e muito sombrio, tanto de dia como de noite. A forma monolítica da obra tirou a permeabilidade da paisagem local e suas proporções também não ajudam. Enfim, foi uma chance perdida.

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Edifício existente hoje no terreno para o qual o Glashochhaus foi projetado. Do lado direito a estação de trem Friedrichstr. Foto: Maristela Pimentel Alves – 08.11.2017

Talvez, se tivessem tido a mesma dose de coragem que Mies van der Rohe teve ao projetar o “Wabe” e o tivessem construído nos dias atuais, poderiam ter sido mais felizes na ocupação desse terreno. No mínimo teria sido um ato de muita ousadia para a história da arquitetura berlinense e uma bela homenagem ao grande arquiteto e design.

Foto destacada: Maristela Pimentel Alves

Bibliografia

ADORJÁN, Johanna. Das Haus, das keiner wollte. Frankfurter Allgemeine

LEMO; Lebendiges Museum https://www.dhm.de/lemo/biografie/biografie-ludwig-mies-van-der-rohe.html