Por Maristela Pimentel Alves
Foto destacada: Maristela Pimentel Alves, 2023
A crise habitacional em Berlim atingiu um nível crítico. Apesar do crescimento populacional acelerado, a oferta de moradias não acompanha a demanda, agravada por políticas ineficazes, especulação imobiliária e dificuldades na construção. O resultado é um mercado inflacionado, com aluguel elevado e milhares de berlinenses enfrentando dificuldades para encontrar um lar.
O problema de oferta baixa de moradia para alugar não atinge apenas Berlim, mas a Alemanha toda. A demanda por moradia é alta, mas, de acordo com as pesquisas do censo de maio de 2022, havia cerca de 1,9 milhão de apartamentos desocupados por motivos diversos nas cidades alemãs. Em Berlim, mais de 40.500 apartamentos estavam vazios na data do relatório, em Munique, mais de 20.000 e em Hamburgo, pouco menos de 20.000.
Já o Departamento Federal de Estatística diz que mais da metade de todos os imóveis em todo o país (55%) estão desocupados há mais de um ano e que trata-se de uma vacância estrutural, que não desaparecerá com facilidade.
Causas da Crise
A capital alemã tem atraído cada vez mais residentes, incluindo trabalhadores qualificados e estudantes. Após uma “queda no crescimento” devido à pandemia do coronavírus, os números da imigração estão aumentando novamente. Somente em 2022, 77.000 novas pessoas chegaram a Berlim. Todas elas estão procurando e precisam de moradia acessível.
No entanto, a construção de novas moradias não seguiu esse ritmo, criando um déficit habitacional significativo. A especulação imobiliária também agrava a situação: investidores compram propriedades e as mantêm vazias ou as destinam ao aluguel de curto prazo, como no Airbnb, restringindo ainda mais a oferta para moradores permanentes.
A gentrificação impulsiona o aumento dos aluguéis, tornando bairros antes acessíveis praticamente inalcançáveis para a população de baixa renda. Políticas como a limitação do aumento dos aluguéis (Mietendeckel) foram derrubadas judicialmente, reduzindo as opções de controle habitacional.
Outro fator importante é a burocracia excessiva, que dificulta e retarda a construção de novos empreendimentos. Além disso, a pandemia da COVID-19 desacelerou projetos imobiliários, enquanto a guerra na Ucrânia elevou os custos de materiais de construção e aumentou a imigração para Berlim.
Moradias Vazias: Um Paradoxo Urbano
Embora Berlim enfrente uma grave escassez de habitação, estes cerca de 40.000 moradias vazias fazem muita falta no mercado. Muitas dessas propriedades permanecem desocupadas devido à especulação imobiliária ou à falta de incentivos para reformas e locação. Especialistas alertam que essa situação contribui para a valorização excessiva dos imóveis e para a degradação de algumas áreas da cidade.
No caso de moradias abandonadas, além do efeito de degradação, um dos maiores problemas ocultos da vacância é que a infraestrutura existente precisa ser mantida e os custos para isso devem ser arcados pelas pessoas que ainda moram nas proximidades.
Perspectivas Futuras
O governo local tem buscado soluções, incluindo incentivos para construções e subsídios para moradias sociais. Estima-se que sejam necessários mais de 100.000 novos apartamentos para equilibrar o mercado até 2040, com uma média de 20.000 novas unidades por ano.
Entretanto, o ritmo de novas construções ainda é insuficiente, e a pressão por reformas regulatórias é crescente. Medidas como a reativação de imóveis vazios e o fortalecimento de moradias públicas podem ser alternativas viáveis para combater a crise.
Por enquanto, os berlinenses seguem enfrentando um cenário de altos custos habitacionais e poucas opções acessíveis, enquanto a cidade luta para encontrar soluções eficazes para um dos seus maiores desafios urbanos.
Diante desse cenário desafiador, a crise habitacional em Berlim exige soluções urgentes e estruturais. A combinação de especulação imobiliária, burocracia e um déficit significativo de novas moradias contribui para um mercado cada vez mais inacessível para grande parte da população. Embora medidas governamentais como subsídios e incentivos à construção sejam passos na direção certa, ainda há um longo caminho para garantir moradia acessível para todos. A reativação de imóveis vazios, aliada a políticas habitacionais mais eficazes, pode ser um dos caminhos para amenizar essa crise, mas a resposta definitiva dependerá do compromisso das autoridades e da sociedade em priorizar o direito à moradia frente aos interesses do mercado.
Fonte Bibliográfica
- “Trotz Wohnungsnot in Berlin: 40.000 Wohnungen stehen leer”, Verliner Morgenpost, 04.07.2024; https://www.morgenpost.de/berlin/article406725699/trotz-wohnungsnot-in-berlin-40000-wohnungen-stehen-leer.html
- “Berlin braucht Wohnungen”, Senatsverwaltung für Stadtentwicklung, Bauen und Wohnen
- “Vergemeinschaftung von Wohnraum am Beispiel des Berliner Vergesellschaftungsgesetzes”, 01 Jan 2023 Schwens, Richard; ISBN-10 : 3756005615 ISBN-13 : 978-3756005611