Atualmente, Berlim conta com um único aeroporto principal: o Aeroporto de Berlin-Brandenburg (BER) – Willy Brandt, localizado nos arredores da capital alemã, no estado de Brandemburgo.
O transporte aéreo na região metropolitana de Berlim possui uma trajetória longa e marcada por desafios e transformações. A história de seus aeroportos reflete as mudanças políticas e geográficas da cidade ao longo dos séculos XX e XXI. Essa jornada remonta a 1891, com os primeiros testes de voo de Otto Lilienthal em Mühlenberg, próximo a Derwitz. Desde então, a cidade operou quatro aeroportos – Tempelhof, Tegel, Gatow e Schönefeld – até a inauguração do Aeroporto de Berlim-Brandemburgo em 2020, marcando um novo capítulo na aviação local.
Tempelhof: Do Monumentalismo ao Símbolo de Liberdade
A história da aviação em Tempelhof começou no final do século XIX, com balões a gás. Em 1924, o local tornou-se um dos primeiros aeroportos comerciais do mundo, consolidando-se durante a efervescente década de 1920, um período de grandes avanços na aviação e intensa atividade cultural em Berlim.
Tempelhof desempenhou um papel crucial na aviação berlinense e foi testemunha de transformações políticas e sociais significativas. Entre 1936 e 1941, sua configuração arquitetônica foi definida pelo arquiteto Ernst Sagebiel. O edifício, um dos maiores do mundo à época, tornou-se símbolo da monumentalidade nazista, refletindo a ideologia do regime e sua ânsia por grandiosidade. Além disso, abrigou eventos propagandísticos e um campo de concentração oficial onde trabalhadores forçados poloneses eram mantidos em condições sub-humanas. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi utilizado para a produção de armamentos.
Após a guerra, Tempelhof transformou-se em um símbolo de liberdade com a Ponte Aérea de Berlim (1948-1949). Durante 11 meses, voos aliados garantiram o abastecimento de Berlim Ocidental, superando o bloqueio soviético.
A infraestrutura do aeroporto compreendia uma vasta elipse para pousos e um conjunto monumental de edifícios. Sua estrutura simétrica incluía um pátio de honra ladeado por alas administrativas, a recepção, o saguão de check-in, áreas de trânsito e um arco de hangares com 1.230 metros de extensão.
Encerradas suas operações aéreas em 2008, a área foi transformada no espaço público Tempelhofer Feld. Apesar de seu passado controverso, incluindo o período nazista, Tempelhof foi ressignificado como um centro cultural da Berlim contemporânea. Atualmente, o espaço é valorizado por sua relevância histórica e cultural, mas enfrenta debates sobre seu futuro, já que é um dos últimos grandes espaços abertos da cidade e alvo do mercado imobiliário. Seu destino permanece incerto, refletindo as complexidades do patrimônio urbano na sociedade moderna.
Bibliografia1

Aeroporto Tempelhof
Foto: Maristela Pimentel Alves, 2022

Aeroporto Tempelhof
Foto: Maristela Pimentel Alves, 2024
Tegel: Um Ícone da Aviação e da Arquitetura
Em 8 de novembro de 2020, às 15h39, o último avião decolou do Aeroporto de Tegel (TXL), localizado no distrito de Reinickendorf, com destino a Paris. Assim, encerrava-se a história de um dos aeroportos mais emblemáticos de Berlim.
Construído em tempo recorde durante o Bloqueio de Berlim (1948-49), Tegel ocupou uma área que antes servia como campo de tiro, porto de dirigíveis e campo de testes de mísseis dentro da zona de ocupação francesa. Em 1974, foi inaugurado seu icônico terminal hexagonal, considerado ultramoderno para a época.
Mais do que um aeroporto, Tegel representava a conexão de Berlim Ocidental com o mundo ocidental durante a Guerra Fria. Além de servir às forças francesas, tornou-se a principal porta de entrada da cidade até seu fechamento. Seu design eficiente era um diferencial apreciado pelos berlinenses, permitindo um fluxo ágil de passageiros.
A arquitetura do aeroporto, assinada pelos renomados arquitetos Meinhard von Gerkan, Volkwin Marg e Klaus Nickels, tornou-se um marco na construção aeroportuária. Hoje, Tegel passa por uma grande transformação: no local, está sendo desenvolvido o Urban Tech Republic, um parque de inovação voltado para tecnologias urbanas. Ao lado, surge o Kurt Schumacher Quartier, um bairro sustentável com edificações em madeira, projetado para abrigar mais de 10.000 pessoas.
Apesar das mudanças, o legado arquitetônico de Tegel permanece: os edifícios centrais do antigo aeroporto continuam a desempenhar um papel essencial no novo projeto, integrando-se ao conceito urbano inovador que molda o futuro da região.
Bibliografia2

Aeroporto de Tegel
Foto: Betexion; https://pixabay.com/de/users/betexion-6116769/l

Aeroporto de Tegel
Foto: Mario Hagen; https://pixabay.com/de/users/mariohagen-17468991/
Campo de pouso de Gatow
O campo de pouso militar dos ingleses durante a ocupação dos aliados, após a segunda guerra mundial.
Em 1935-1936, o Ministério da Aviação nayista construiu uma base aérea e uma escola de guerra em “Ritterfeld”, no vilarejo de Gatow, seguindo os planos dos arquitetos Richard Binder, Josef Braun e Alfred Gunzenhauser. O local servia para o treinamento de pilotos e oficiais da força aérea. Ao sul, foi conectada à Academia de Aviação do Reich e à Academia de Aviação (hoje Hospital Comunitário de Havelhöhe), onde os oficiais eram preparados para a equipe geral. A Força Aérea Alemã permaneceu em Gatow até 26 de abril de 1945, quando, após a capitulação de Berlim, o aeródromo foi tomado pelas forças soviéticas.
Em 2 de julho de 1945, a Royal Air Force (RAF) das forças britânicas assumiu o controle do local. Inicialmente, aviões soviéticos ainda utilizavam a base para transportar passageiros importantes entre Londres, Paris e Moscou.
Em junho de 1994, os aliados deixaram Berlim e em seguida sessaram-se os voos a partir do campo de Gatow. Três meses mais tarde, o exército alemão assumiu o controle da área.
Grande parte da antiga área do campo de pouso agora é usada para fins civis. Atualmente, há casas geminadas e independentes, supermercados e escolas em parte na área das pistas de pouso. Uma outra parte das pistas antigas são usadas como uma área de exposição para aeronaves históricas.

Campo de pouso Gatow
Foto: Betexion; https://pixabay.com/de/users/emkanicepic-7638451/
Do Aeroporto de Schönefeld ao BER: Desafios e a Longa Jornada até a Inauguração
Após a reunificação alemã, o Aeroporto de Schönefeld enfrentou forte concorrência de Tegel e Tempelhof, resultando em uma queda no número de passageiros e seu uso predominante para voos fretados. Em 1996, foi decidido que um novo aeroporto internacional seria construído na mesma localização. Assim nasceu o projeto do Aeroporto de Berlim-Brandemburgo (BER), cuja execução foi marcada por protestos, desafios técnicos e sucessivos atrasos.
Durante a era da RDA, Schönefeld era um centro estratégico, operado pela companhia aérea Interflug, conectando 53 destinos. O aeroporto possuía infraestrutura avançada para a época e era acessível por transporte público. Além disso, atraía alemães ocidentais devido às tarifas mais acessíveis, embora esses passageiros fossem rigidamente separados dos cidadãos da RDA para evitar fugas.
A construção do BER começou em 2006, mas foi marcada por uma série de adiamentos. Apenas em 2020, após anos de problemas técnicos e burocráticos, o aeroporto foi finalmente inaugurado.
Arquitetura do Aeroporto de Berlin-Brandenburg
O projeto do BER, desenvolvido pelos arquitetos Meinhard von Gerkan, Hubert Nienhoff e Hans-Joachim Paap, buscou integrar funcionalidade e estética em uma estrutura coesa. No coração do complexo, o terminal de passageiros e a Cidade do Aeroporto organizam-se dentro de um sistema de pistas paralelas, garantindo um fluxo eficiente. A oeste situam-se as áreas de manutenção, enquanto a leste concentram-se os serviços e cargas.
A arquitetura segue um eixo central, garantindo harmonia e unidade no design. O grande disco no teto do terminal destaca-se como um elemento de integração, conectando todas as zonas funcionais – do estacionamento ao píer – e unificando o lado terra ao lado ar em um único gesto arquitetônico.

Aeroporto de Berlim-Brandemburgo
Foto: Gerald Friedrich; https://pixabay.com/de/photos/flughafen-ber-architektur-geb%C3%A4ude-2089360/
O Aeroporto de Berlin-Brandenburg “Willy Brandt”, também conhecido como Hauptstadtflughafen é o principal aeroporto da capital alemã Berlim. Está situado em Schönefeld a 18 km ao sul do centro, no coração da região metropolitana de Berlim-Brandemburgo.
Endereco: Melli-Beese-Ring 1,12529 Schönefeld
Código: BER
Telefone: 030 609160910
Capacidade anual: 27 milhões de passageiros
Inauguração: 31 de outubro de 2020
- Bibliografia Tempelhof
https://www.berlin.de/landesdenkmalamt/denkmale/highlight-denkmale-der-alliierten/grossbritannien/spandau/royal-air-force-gatow-raf-gatow-648000.php
https://www.thf-berlin.de/geschichte
https://www.thf-berlin.de/geschichte/nationalsozialismus
Paeschke, Carl-Ludwig: Flughafen Tempelhof:Die Geschichte einer Legende; ISBN 978-3-95510-337-8; 28.08.2023; editora Ullstein.
Gatza, Mathias: Os céus de Berlim. Uma busca histórico-ficcional por pistas; Editora Steidl ISBN 978-3-96999-278-4 ↩︎ - Bibliografia Tegel
https://www.berlin.de/sen/wirtschaft/technologiezentren-zukunftsorte-smart-city/zukunftsorte/flughafen-tegel/artikel.101924.php
https://industriekultur.berlin/ort/flughafen-tegel/
https://www.berlin.de/sen/wirtschaft/technologiezentren-zukunftsorte-smart-city/zukunftsorte/flughafen-tegel/artikel.101924.php
Ortner, Peter: The Essence of Berlin-Tegel: Taking Stock of an Airport’s Architecture; ISBN 978-3-86859-631-1; 05/2020 ↩︎